A Confeitaria Colombo
Frente da Confeitaria. Todas as fotografias são do meu acervo |
A confeitaria Colombo, na atual rua Gonçalves Dias, foi um dos espaços
de reunião preferidos da elite carioca e da boemia dourada literária entre fins
do século XIX e primeiros anos do século XX. Em espaços mundanos, como a
Confeitaria Colombo, a literatura era cultivada como um luxo igualável aos
objetos de consumo e à moda que soprava da Europa, sobretudo Paris.
Fundada em 1894, sofreu uma
reforma de seu interior entre 1912 e 1918 com um toque de Art Nouveau e a introdução de enormes espelhos de cristal trazidos
da Antuérpia, emoldurados por elegantes frisos talhados em madeira de
jacarandá. Em 1922 as suas instalações foram ampliadas com a construção de um
segundo andar, com um salão de chá. Uma abertura no teto do pavimento térreo
permite ver a claraboia do salão de chá, decorada com belos vitrais. Entre os
clientes famosos da confeitaria estão Olavo Bilac, Rui Barbosa, Villa-Lobos,
Lima Barreto, José do Patrocínio e, atualmente, eu (rsrsr).
Entrar
naquele espaço, observar a sua magnífica arquitetura, respirar um ar carregado
de passado, dá ao visitante, como eu, uma ideia do que foi a chamada belle époque carioca, que conhecemos
apenas pelos livros e pesquisas. Como sou um pesquisador daquele período (fins
do século XIX e primeiras décadas dos séculos XX), ali me sinto em casa,
encontro meu lugar.
Respirar
a fragrância daquele espaço, uma espécie de mistura de cheiros de água de colônia, biscoitos
amanteigados, chocolate quente, caramelo queimado e poeira, me transporta para
o passado. Da mesma forma, observar, no final da tarde, quando os seus frequentadores
já foram embora, sobre as mesas, agora desarrumadas, as migalhas de pão, copos
manchados de batom, guardanapos marcados, pratos sujos, faz perder-me em
devaneios imaginado a sociedade carioca daquele tempo, a balbúrdia das
conversas simultâneas, as vozes, o tinido das facas e garfos de prata, tintin de copos ao ar, o som de uma
valsa ou polca ao fundo, os flertes, os casos amorosos, as prostitutas
de luxo tentando fisgar os seus clientes, os boêmios e literatos. Tudo isso, me dá um prazer imenso cujas palavras não são capazes de expressar.
O mais mágico é que, imaginar
e viver aqueles momentos me fazem perder a noção do tempo. Os melhores momentos
de nossa vida - posso lembrar-lhes - são aqueles em que esquecemos a nossa
existência (em que perdemos a noção do tempo, como quando estamos apaixonados).
Para aqueles interessados em saber mais sobre esses ambientes e o clima
da época há, pelo menos, três bons livros, dois deles são romances. A
vida literária –
1900, de Brito Broca[1], não é simplesmente uma obra sobre a
literatura dos anos finais do século XIX e dos anos iniciais do século seguinte,
mas um livro sobre a vida literária no período. A preocupação do autor centra-se
em estabelecer a relação entre literatura e sociedade. Qual ligação pode-se
estabelecer entre letras e o universo cultural no Brasil, sobretudo na capital
republicana? Esta parece ser uma das perguntas a ser respondida. Brito Broca não
se prende na discussão sobre os livros publicados no período, as tendências seguidas
ou as escolas literárias, mas em analisar o universo cultural ou social, como
queiram, dos homens de letras no Brasil e mais precisamente na capital, centro
dinâmico e cultural da nação no período, atraindo para si os talentos mais
brilhantes.
Uma boa descrição dos espaços mundanos
cariocas é dada "por Afrânio Peixoto em A Esfinge[2], e uma crítica deles, é feita por
Elysio de Carvalho em Five o’clock[3].
No primeiro caso, quase todo o romance é ambientado nos salões mundanos, cuja
descrição é feita em detalhes, ‘documento’ histórico destes ambientes, locais
de intrigas pessoais, espaços de discussões políticas, questões econômicas,
literárias e artísticas, de construção de alianças e de, principalmente,
flertes. No segundo romance, os salões são entendidos como locais de
teatralização, do parasitismo frívolo que estimula notáveis, a elite letrada e
seus dandys, a mise-en-scéna, na então capital”. [4]
[1] BROCA, Brito. A vida literária no Brasil – 1900. 4.
ed. Rio de Janeiro: José Olympio: Academia Brasileira de Letras, 2004.
[2]
PEIXOTO, Afrânio. A esfinge. 12. ed.
São Paulo: Clube do Livro, 1978.
[3]CARVALHO,
Elysio. Five o’clock. Rio de Janeiro:
Editora Antiqua, 2006.
[4] FARIAS FILHO, Antonio Vitorino. Cidade e modernidade. ipu-ce:
verso e reverso de uma cidade nas primeiras décadas do século xx. 265 f. Tese (Doutorado em História) –
Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco,
Recife, 2013, p. 104.
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