terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Bolsonaro e o livro didático




Declaração recente do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, sobre o conteúdo dos livros didáticos virou piada nas redes sociais. Disse ele que “Os livros hoje em dia, como regra, é um montão, um amontoado… Muita coisa escrita, tem que suavizar aquilo”. As piadas, em geral, associavam o mandatário da nação a figuras pouco simpáticas ao conhecimento e à leitura, para não dizer à bichos com orelhas grandes, ligados à ignorância.
Como é próprio das redes sociais, espaços superficiais e abertos às exposições narcisistas diárias, de uma felicidade irritante, o essencial da atitude do presidente passou despercebido, o não dito, aquilo por trás da evidência da fala: a sua obsessão pelo controle da produção do conhecimento.
            É sabido que os livros didáticos, não levando em conta o mercado editorial, são produzidos por especialistas, com titulação elevada, reconhecidos em suas áreas do saber, e que, frequentemente, incorporam novos conhecimentos oriundos de pesquisas mais recentemente. Apresentam nas últimas décadas inovações, evidente qualidade de texto, conceitos bem elaborados, metodologias inovadoras, dentre outros aspectos, pelo menos é assim para o caso das Ciências Humanas, que conheço mais de perto.
            Apenas em regimes totalitários, de extrema-direita, caso dos nazi-fascismos, ou de extrema-esquerda, caso do socialismo real, há o controle da produção do conhecimento, que se reveste em controle ideológico. E não só isso, mas uma reescritura da história, tendo por base os interesses de quem está no poder, o que lembra o livro ficcional de George Orwell, 1984. Nesta obra, o Partido (que controla o poder), na Oceania, uma das três superpotências que disputam o controle do mundo, não apenas exerce uma vigilância implacável sobre os indivíduos, mas tem por objetivo, de um lado, controlar o pensamento e a mente de seus habitantes, não deixando espaço para ideias ou atitudes que destoam da ortodoxia reinante e, de outro lado, controlar o passado, alterando-o, constantemente, em prol dos interesses do núcleo do Partido .
            Visto por esse ângulo, o caso é preocupante. Não me surpreendo se, hoje ou amanhã, a defesa da interferência na produção dos livros didáticos seja justificada com o argumento de que os tais suportes são produzidos por esquerdistas, numa grande conspiração para impor o socialismo ao mundo e destruir a direita.
Não seja um tremendo imbecil. Estude um pouco, leia, para ser capaz de entender a realidade para além dos reducionismos, como o caso da dicotomia esquerda-direita, ou irão colocar excremento na sua cabeça enquanto você ri satisfeito, mostrando os dentes...
           

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