Declaração recente do presidente da
República, Jair Messias Bolsonaro, sobre o conteúdo dos livros didáticos virou piada
nas redes sociais. Disse ele que “Os livros hoje
em dia, como regra, é um montão, um amontoado… Muita coisa escrita, tem que
suavizar aquilo”. As piadas, em geral, associavam o mandatário da nação a figuras
pouco simpáticas ao conhecimento e à leitura, para não dizer à bichos com
orelhas grandes, ligados à ignorância.
Como é próprio das redes
sociais, espaços superficiais e abertos às exposições narcisistas diárias, de
uma felicidade irritante, o essencial da atitude do presidente passou despercebido,
o não dito, aquilo por trás da evidência da fala: a sua obsessão pelo controle da
produção do conhecimento.
É sabido que os livros didáticos, não
levando em conta o mercado editorial, são produzidos por especialistas, com
titulação elevada, reconhecidos em suas áreas do saber, e que, frequentemente,
incorporam novos conhecimentos oriundos de pesquisas mais recentemente. Apresentam
nas últimas décadas inovações, evidente qualidade de texto, conceitos bem
elaborados, metodologias inovadoras, dentre outros aspectos, pelo menos é assim
para o caso das Ciências Humanas, que conheço mais de perto.
Apenas
em regimes totalitários, de extrema-direita, caso dos nazi-fascismos, ou de
extrema-esquerda, caso do socialismo real, há o controle da produção do
conhecimento, que se reveste em controle ideológico. E não só isso, mas uma
reescritura da história, tendo por base os interesses de quem está no poder, o
que lembra o livro ficcional de George Orwell, 1984.
Nesta obra, o Partido (que controla o poder), na Oceania, uma das três superpotências que
disputam o controle do mundo, não apenas exerce uma vigilância implacável sobre
os indivíduos, mas tem por objetivo, de um lado, controlar o pensamento e a
mente de seus habitantes, não deixando espaço para ideias ou atitudes que
destoam da ortodoxia reinante e, de outro lado, controlar o passado, alterando-o,
constantemente, em prol dos interesses do núcleo do Partido .
Visto por esse ângulo,
o caso é preocupante. Não me surpreendo se, hoje ou amanhã, a defesa da interferência
na produção dos livros didáticos seja justificada com o argumento de que os tais
suportes são produzidos por esquerdistas, numa grande conspiração para impor o socialismo
ao mundo e destruir a direita.
Não seja um tremendo
imbecil. Estude um pouco, leia, para ser capaz de entender a realidade para
além dos reducionismos, como o caso da dicotomia esquerda-direita, ou irão
colocar excremento na sua cabeça enquanto você ri satisfeito, mostrando os
dentes...
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