Embora a atividade principal, da
associação, fosse o baile, também desenvolvia torneios e palestras literárias,
brincadeiras e outras atividades cujo tom era de diversão e aprendizagem.
Os bailes do Grêmio, assim
como os saraus realizados nos palacetes pertencentes aos homens abastados, e
os assaltos, restritos ao convívio das famílias “distintas” locais,
funcionavam como espaços que favoreciam as uniões matrimoniais dentro de um
mesmo grupo. Os casamentos entre os rapazes e as moças que frequentavam os
“salões elegantes” eram favorecidos também porque eram eles educados para
“saberem escolher” o seu par. A mulher “de família” era educada para exercer as
suas funções, aquelas que a sociedade lhes impunha que consistia, grosso modo,
em ser mãe, esposa e dona de casa.
Além do baile ordinário, sempre uma vez
por mês, o Grêmio realizava os saraus extraordinários,
promovendo em seus salões, por exemplo, bailes em comemoração às datas festivas
e cívicas, como o 7 de setembro, o 20 de janeiro, dia de São Sebastião e
padroeiro da cidade, o 11 de julho, aniversário da batalha de Riachuelo. Quase
sempre a solenidade chama-se “festival” e promovia um evento “litero-dansante”[1]. Os Salões e grêmios, durante o Segundo Império, como
demonstra Wanderley Pinho[2], e mais ainda aqueles do
final do século XIX, na capital federal, como esclarece Brito Broca[3], associavam de forma bastante estreita a soirée,
baile dançante, com o sarau literário ou a partida literária.
Literatura e mudanismo andavam juntos. Essa característica aparece de forma
nítida nas atividades do Grêmio e parece ser um diferencial em
relação, por exemplo, aos clubes sobralenses, que surgiram muito mais como
clubes políticos, associados aos partidos, com demonstra o estudo de Elza
Marinho Lustosa da Costa[4]. Além disso, o Grêmio
Ipuense abria seus espaços para palestras, apresentação de peças
teatrais e exibição de cinematógrafo.
Para fazer parte da diretoria daquela
agremiação e ser aceito como sócio era necessário pertencer a “alta sociedade”
da época, “ter bons modos”, uma “moral civilizada” e comungar com os ideais
modernos e progressistas de seus fundadores, ser indicado por um ou mais sócios
efetivos e aceito em votação pela maioria da diretoria em um de suas sessões
ordinárias.
Como pertencer ao quadro social do Grêmio denotava
distinção, ele exerceu sobre grande parte da população local certa atração.
Todos desejosos de ares de superioridade queriam ser seus sócios. Mesmo aqueles
que por ventura não gostasse de sê-lo e nem de ir a seus bailes, era
aconselhável que o fizesse, por ser o Grêmio uma instituição
prestigiada.
As poucas fotografias de alguns dos
membros do Grêmio, sobretudo de sua diretoria, que conseguimos
reunir permitem-nos afirmar que existia uma busca pelo bem trajar. Parecia
haver uma preocupação no sentido de exteriorizar, conscientemente, um jeito
aristocrático de ser, um refinamento nos modos, cujo paradigma estaria
associado ao modelo aristocrático franco-inglês, buscado pela elite carioca no
entre século, bem conhecido de grande parte dos membros do Grêmio,
seja in loco ou por meio de imagens impressas nos periódicos
cariocas.
Sobre a imagem: diretoria do Gabinete de Leitura em
1928. Faziam parte, também, da cúpula do Grémio. Cópia
digitalizada pertencente ao acervo do autor. O documento original pertence ao
acervo de Francisco de Assis Martins. Da esquerda para a direta, sentados,
Joaquim de Oliveira Lima, Dr. Chagas Pinto (presidente) e Abdoral Timbó. De pé,
Antonio Marrocos e Dário Catunda. Fonte: Revista dos Municípios, p.
44.
[1] Gazeta do Sertão. Ipu, p.
3, 16 maio, 1913.
[2] PINHO. Vanderley. Salões
e damas do Segundo Reinado. Op. cit.
[3] BROCA, Brito. A vida
literária no Brasil – 1900. Op. cit.
[4] DA COSTA, Elza Marinho Lustosa. Sociabilidades
e Cultura das Elites Sobralense: 1880-1930. Fortaleza: SECULT/CE,
2011.
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