quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Grêmio Ipuense. A ruína de um projeto - Parte III




Embora a atividade principal, da associação, fosse o baile, também desenvolvia torneios e palestras literárias, brincadeiras e outras atividades cujo tom era de diversão e aprendizagem.
Os bailes do Grêmio, assim como os saraus realizados nos palacetes pertencentes aos homens abastados, e os assaltos, restritos ao convívio das famílias “distintas” locais, funcionavam como espaços que favoreciam as uniões matrimoniais dentro de um mesmo grupo. Os casamentos entre os rapazes e as moças que frequentavam os “salões elegantes” eram favorecidos também porque eram eles educados para “saberem escolher” o seu par. A mulher “de família” era educada para exercer as suas funções, aquelas que a sociedade lhes impunha que consistia, grosso modo, em ser mãe, esposa e dona de casa.
Além do baile ordinário, sempre uma vez por mês, o Grêmio realizava os saraus extraordinários, promovendo em seus salões, por exemplo, bailes em comemoração às datas festivas e cívicas, como o 7 de setembro, o 20 de janeiro, dia de São Sebastião e padroeiro da cidade, o 11 de julho, aniversário da batalha de Riachuelo. Quase sempre a solenidade chama-se “festival” e promovia um evento “litero-dansante”[1]. Os Salões e grêmios, durante o Segundo Império, como demonstra Wanderley Pinho[2], e mais ainda aqueles do final do século XIX, na capital federal, como esclarece Brito Broca[3], associavam de forma bastante estreita a soirée, baile dançante, com o sarau literário ou a partida literária. Literatura e mudanismo andavam juntos. Essa característica aparece de forma nítida nas atividades do Grêmio e parece ser um diferencial em relação, por exemplo, aos clubes sobralenses, que surgiram muito mais como clubes políticos, associados aos partidos, com demonstra o estudo de Elza Marinho Lustosa da Costa[4]. Além disso, o Grêmio Ipuense abria seus espaços para palestras, apresentação de peças teatrais e exibição de cinematógrafo.
Para fazer parte da diretoria daquela agremiação e ser aceito como sócio era necessário pertencer a “alta sociedade” da época, “ter bons modos”, uma “moral civilizada” e comungar com os ideais modernos e progressistas de seus fundadores, ser indicado por um ou mais sócios efetivos e aceito em votação pela maioria da diretoria em um de suas sessões ordinárias.
Como pertencer ao quadro social do Grêmio denotava distinção, ele exerceu sobre grande parte da população local certa atração. Todos desejosos de ares de superioridade queriam ser seus sócios. Mesmo aqueles que por ventura não gostasse de sê-lo e nem de ir a seus bailes, era aconselhável que o fizesse, por ser o Grêmio uma instituição prestigiada.
As poucas fotografias de alguns dos membros do Grêmio, sobretudo de sua diretoria, que conseguimos reunir permitem-nos afirmar que existia uma busca pelo bem trajar. Parecia haver uma preocupação no sentido de exteriorizar, conscientemente, um jeito aristocrático de ser, um refinamento nos modos, cujo paradigma estaria associado ao modelo aristocrático franco-inglês, buscado pela elite carioca no entre séculobem conhecido de grande parte dos membros do Grêmio, seja in loco ou por meio de imagens impressas nos periódicos cariocas.


Sobre a imagem: diretoria do Gabinete de Leitura em 1928.  Faziam parte, também, da cúpula do Grémio. Cópia digitalizada pertencente ao acervo do autor. O documento original pertence ao acervo de Francisco de Assis Martins. Da esquerda para a direta, sentados, Joaquim de Oliveira Lima, Dr. Chagas Pinto (presidente) e Abdoral Timbó. De pé, Antonio Marrocos e Dário Catunda. Fonte: Revista dos Municípios, p. 44.




   [1] Gazeta do Sertão. Ipu, p. 3, 16 maio, 1913.
   [2] PINHO. Vanderley. Salões e damas do Segundo Reinado. Op. cit.
   [3] BROCA, Brito. A vida literária no Brasil – 1900. Op. cit.
 [4] DA COSTA, Elza Marinho Lustosa. Sociabilidades e Cultura das Elites Sobralense: 1880-1930. Fortaleza: SECULT/CE, 2011. 


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