A atual disseminação do Coronavírus pelo
mundo e os problemas de saúde que têm causado levaram a Organização Mundial da
Saúde a caracterizar o caso como uma pandemia. O fato tem trazido pânico e
medo. Sempre em momentos como o atual, surgem explicações que se repetem ao
longo da história e que encontram um terreno propício num mar de ignorância e superstição.
Podemos encontrá-las já no século XIV no cenário devastador da Peste Negra.
Só
hoje me deparei com quatro explicações que buscam dar conta da origem do novo
Vírus. Um líder espiritual defendeu o mal como inofensivo e resultado de uma “tática
do Satanás”, para “impor medo”, “pavor”, “dúvida” e, assim, agir melhor. Outra
explicação, mais popular, defende que esta é uma forma que Deus encontrou para
anunciar o fim dos tempos ou para punir o mal da humanidade. Duas outras são
teorias da conspiração. De um lado, o vírus teria sido criado pela China, como
arma biológica, para desestabilizar a economia mundial e, assim, dominar os
mercados e desbancar os EUA de seu posto de primeira potência mundial. Ao
contrário, de outro lado, o vírus teria sido implantado na China pelos
americanos como estratégia para derrubá-la economicamente e vencer a guerra
comercial que ambas têm travado.
Muitas
dessas explicações sempre aparecem em momentos de pânico e encontram adeptos em
todo lugar. Tem sido assim desde pelo menos a Idade Média. Um dos primeiros
diagnósticos que buscaram explicar a origem da Peste Negra, do século XIV e que
assolou a Europa ocidental, foi dado pelo clero católico do período. De maneira
constante, a Igreja da época representava as calamidades como punições
desejadas pelo Altíssimo encolerizado. Essa doutrina foi por muito tempo aceita
tanto pela parcela esclarecida da opinião quanto pela grande massa.
Duas consequências decorreram dessa doutrina. De um lado, defendia-se
que seria preciso aceitar com docilidade a punição e não ter medo de morrer. Fugir
era visto como um pecado e ficar, um ato meritório. Por outro lado, era preciso
emendar-se e fazer penitência. A procissão era remédio para toda a cidade, uma
súplica. A peste era então entendida como uma “praga” comparável às que
atingiram o Egito.
Era identificada também como
uma nuvem devoradora vinda do estrangeiro e que se deslocava de país em país,
da costa para o interior e de uma extremidade a outra de uma cidade, semeando a
morte à sua passagem. Era ainda descrita como um dos cavaleiros do apocalipse,
como um novo “dilúvio” e sobretudo como um incêndio frequentemente anunciado no
céu pelo rastro de fogo de um cometa. A peste era também e sobretudo entendida
como uma chuva de flechas abatendo-se de súbito sobre os homens pela vontade de
um Deus encolerizado. Não por acaso, foi aí que o culto a São Sebastião se
popularizou. Intercedendo em favor do homem, defendia-se que se punha entre as
flechas lançados por Deus (simbolicamente) e os homens, livrando-os da peste.
Ótima reflexão.
ResponderExcluirParabéns pelo belíssimo texto.