terça-feira, 17 de março de 2020

A PANDEMIA DO VÍRUS E A EPIDEMIA DA PESTE BUBÔNICA PARTE I




A atual disseminação do Coronavírus pelo mundo e os problemas de saúde que têm causado levaram a Organização Mundial da Saúde a caracterizar o caso como uma pandemia. O fato tem trazido pânico e medo. Sempre em momentos como o atual, surgem explicações que se repetem ao longo da história e que encontram um terreno propício num mar de ignorância e superstição. Podemos encontrá-las já no século XIV no cenário devastador da Peste Negra.
            Só hoje me deparei com quatro explicações que buscam dar conta da origem do novo Vírus. Um líder espiritual defendeu o mal como inofensivo e resultado de uma “tática do Satanás”, para “impor medo”, “pavor”, “dúvida” e, assim, agir melhor. Outra explicação, mais popular, defende que esta é uma forma que Deus encontrou para anunciar o fim dos tempos ou para punir o mal da humanidade. Duas outras são teorias da conspiração. De um lado, o vírus teria sido criado pela China, como arma biológica, para desestabilizar a economia mundial e, assim, dominar os mercados e desbancar os EUA de seu posto de primeira potência mundial. Ao contrário, de outro lado, o vírus teria sido implantado na China pelos americanos como estratégia para derrubá-la economicamente e vencer a guerra comercial que ambas têm travado.
            Muitas dessas explicações sempre aparecem em momentos de pânico e encontram adeptos em todo lugar. Tem sido assim desde pelo menos a Idade Média. Um dos primeiros diagnósticos que buscaram explicar a origem da Peste Negra, do século XIV e que assolou a Europa ocidental, foi dado pelo clero católico do período. De maneira constante, a Igreja da época representava as calamidades como punições desejadas pelo Altíssimo encolerizado. Essa doutrina foi por muito tempo aceita tanto pela parcela esclarecida da opinião quanto pela grande massa.
Duas consequências decorreram dessa doutrina. De um lado, defendia-se que seria preciso aceitar com docilidade a punição e não ter medo de morrer. Fugir era visto como um pecado e ficar, um ato meritório. Por outro lado, era preciso emendar-se e fazer penitência. A procissão era remédio para toda a cidade, uma súplica. A peste era então entendida como uma “praga” comparável às que atingiram o Egito.

Era identificada também como uma nuvem devoradora vinda do estrangeiro e que se deslocava de país em país, da costa para o interior e de uma extremidade a outra de uma cidade, semeando a morte à sua passagem. Era ainda descrita como um dos cavaleiros do apocalipse, como um novo “dilúvio” e sobretudo como um incêndio frequentemente anunciado no céu pelo rastro de fogo de um cometa. A peste era também e sobretudo entendida como uma chuva de flechas abatendo-se de súbito sobre os homens pela vontade de um Deus encolerizado. Não por acaso, foi aí que o culto a São Sebastião se popularizou. Intercedendo em favor do homem, defendia-se que se punha entre as flechas lançados por Deus (simbolicamente) e os homens, livrando-os da peste.

Continua...
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