terça-feira, 28 de abril de 2020

“E daí? Lamento, quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres”



Interpelado por uma repórter sobre o novo recorde de mortes registrado em 24 horas (474 vítimas) por covid-19, levando o Brasil a ultrapassar a China em números totais, hoje, dia 28 de abril, o presidente da República respondeu: “E daí? Lamento, quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres”.
A resposta seca do presidente da República do Brasil para um dos piores dramas de saúde pública que o país vive atualmente, embora chocante, não deve ter surpreendido ninguém. Afinal, desde o início da pandemia, aqui, atacou o isolamento social - atualmente a medida mais segura contra a nova infecção -, a Organização Mundial da Saúde, a ciência e derrubou seu próprio ministro da saúde por ir na contramão do chefe da nação e seguir o protocolo adotado no mundo para combater a doença. Mais do que isso, participou de manifestações e não manteve o distanciamento social, enfim, fez exatamente o contrário de todas as recomendações, agindo de forma irresponsável.

Por ser o maior chefe da nação, estar à frente dos rumos do país, ser líder, sua atitude acaba sendo seguida não apenas por aqueles que concordam com o seu comportamento, mas também por muitas pessoas que encaram o problema com desdém, gerando riscos para si e para a sociedade.
O sistema de saúde da maior e mais rica cidade da América Latina, São Paulo, já entrou em colapso, seguida pelo Rio de janeiro, Manaus e Fortaleza. Muitas pessoas, nestes locais, já estão morrendo com síndrome respiratória aguda grave, com suspeita de covid-19, sem atendimento porque não há mais UTIs disponíveis. Ao que tudo indica, pelo menos é essa a análise dos especialistas, ainda não atingimos o topo da curva de contágio, estamos ainda no início, o que significa que o Sistema de Saúde Pública do país, e não apenas o SUS, não tardará a colapsar. Se isso acontecer, estaremos diante da maior catástrofe que o país já terá vivido em toda a sua história.
Diante desse cenário, surgem acusações de todos os lados de que o Governo Federal e o Ministério da Saúde não apenas têm se mantido negligentes com a situação drástica, mas também, em muitos casos, têm dificultado as ações dos governadores e outras autoridades no combate ao problema. Não preciso enumerá-las aqui, se você que lê estas linhas tem aí, dentro de seu crânio, um massa encefálica-cinzenta-pensante.
O desdém do presidente e sua trupe com a situação leva algumas amebas acéfalas a achar ainda que tudo não passa de uma maquinação bolchevista de dominação do planeta, e que o que estamos vendo na imprensa não passa de mentiras plantadas, criadas. Isso é tão absurdo, que nem deveria ter sido mencionado. 
O pós-covid-19 pode ser implacável com aqueles que hoje, como o presidente, negligenciam a ajuda necessária e devida às cidades agonizantes, deixando com que parte de nossa população morra agonizante na entrada dos hospitais, aguardando atendimento. A impressão que tenho é de que a humanidade e a dignidade já deixaram aquele corpo faz muito tempo.
Os negligentes podem ser acusados, responsabilizados e condenados em um futuro não muito distante como verdadeiros genocidas e entrar para a galeria dos sanguinários da humanidade! Ou pelo menos a história pode ser implacável com eles, apenas fazendo aquilo que é o ofício do historiador: escrever a história com base nas fontes e vestígios deixados pela humanidade.
A uma nação abandonada, só resta a sua população rezar!
                  
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