Na minha curta existência, até aqui, nunca tinha me deparado com um momento tão dramático vivido pelo país, como o atualmente. Por isso, semanalmente, tenho parado um pouco minhas atividades na docência, na leitura e na escrita para fazer uma análise dos fatos recentes. Tenho feito isso por duas razões. A primeira parece óbvia: o que vem acontecendo é tão absurdo e surreal que não escrever sobre isso é quase impossível. Os fatos chocantes, penso, nos incitam a pensar sobre eles.
Em segundo lugar, sinto
necessidade de escrever para documentar, para registar os absurdos, a barbárie
que vivemos. Neste último caso, não o faço como historiador, que sou, por
muitas razões, mas como expectador, como alguém imerso em seu próprio tempo, que vive e sofre as consequências das mudanças, dos atos e das palavras das
pessoas.
Por outro lado, só
disponibilizo, aqui neste espaço, apenas uma parte daquilo que registro. E
quando escrevo, faço isso, em primeiro lugar, para mim mesmo e não para quem
possivelmente possa ler aquilo que rabisco. Não me importa muito se terei
poucos ou muitos leitores. O simples fato de escrever, para registar o
assustador, tem valor em si mesmo.
Estarrecedor
Creio que boa parte das
pessoas desapaixonadas do partidarismo, que possui um pouco de bom senso e um
cérebro, ainda que do tamanho de uma pitomba, já percebeu que no momento em que
o país mais precisa de um líder, está, não obstante, à deriva. No mesmo dia em
que o Brasil batia o recorde de infectados, mais de 100 mil casos, com mais de 600 vítimas fatais nas últimas 24 horas, contabilizando, desde o início, quase
10 mil mortos, por Covid-19, o presidente não apenas mantém o discurso de
flexibilizar o isolamento social, como pressiona, num lance chocante, a
sociedade e o Supremo Tribunal Federal a somar força com ele.
Para piorar, declarou,
inicialmente com absoluta seriedade, depois, em tom sarcástico, que faria um
churrasco no final de semana e convidaria, inicialmente, 30 pessoas. Ainda que
fosse apenas uma piada, demonstra total insensibilidade às famílias atingidas,
descaso com o problema de saúde pública, e dá mostras de que não é digno do
cargo que ocupa.
Assustador
Igualmente já deve ter ficado
bastante claro, para todos nós, que o governo federal não tem adotado nenhum
plano mais arrojado de combate ao avanço da Covid-19. Não creio que o
Ministério da Saúde possa fazer muito, para isso seriam necessários recursos e
apoio. A troca recente no Ministério da Saúde, creio, visava a barrar gastos além
do orçamente estipulado para a pasta e tentava frear, igualmente, as medidas
de austeridade no combate ao avanço do Coronavírus. Atitudes que se ajustam com o que
tem demonstrado diariamente o presidente da República.
No Rio de Janeiro, a segunda
cidade mais importante do país, os hospitais federais, com ampla capacidade de
atendimento, não estão atuando para atender os doentes porque, segundo a
imprensa, faltam pessoal e equipamentos (não há recursos). O Sistema de Saúde
já não suporta a quantidade de doentes graves. O governo de Manaus, onde a saúde colapsou,
disse ter pedido ajuda internacional, dada a negligência do Governo Federal. O
Sistema de Saúde das cidades mais importantes do país começa a colapsar, e o
Coronavírus assustadoramente avança pelo interior. O Ministério da Saúde parece
assistir de camarote o cortejo fúnebre.
Mais do que isso, a inoperância
ou a negligência do Governo Federal anuncia uma tragédia de proporções
gigantescas. Tende a se tornar a pior tragédia já vivida pelo país em toda a
sua história. A irresponsabilidade do governo, tendo à frente Jair Messias
Bolsonaro, tem contribuído para “matar” (por negligência), em apenas um dia, o
que os torturadores da ditadura levaram décadas para fazer. Estudiosos apontam
que o Brasil poderá contabilizar milhões de mortos e caminha para se
transformar no novo epicentro da doença.
A Barbárie
O que esperar do Governo Federal?
O que esperar do Ministério da Saúde? O que pode ser feito?
Pelas demonstrações do
presidente, os recursos para a saúde parecem ser os mesmos de quase sempre,
insuficientes mesmo para manter o Sistema Único de Saúde funcionando em tempos
normais. Se o presidente da República se irrita com as medidas de isolamento,
com os dados do avanço da Covid-19, se a cada vez que fala em público ataca o
isolamento social, por que iria combater o avanço do Coronavírus? Se ele só
fala em economia, por que iria destinar mais recursos para a Saúde Pública? Se
o Ministério da Saúde tem um plano de combate à doença, por que não o apresenta?
Espero que as estimativas dos
especialistas, que dificilmente erram, estejam equivocadas. Caso contrário, no
futuro, muita gente será responsabilidade pelos mortos que terão causado.
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