Conheci Orhan Pamuk em 2010, quando li
seu romance “O livro negro”. A leitura dessa obra me causou uma profunda
impressão. Lembro-me que fiquei extasiado, quase em choque, com exagero, é
claro, tal foi a impressão que me causou. Mais tarde, creio que em 2013, reli-o
e escrevi uma resenha sobre esta instigante obra. Apresento abaixo, aos meus
ínfimos leitores, um grande resumo do artigo que produzi. Para os amantes da
boa leitura, nesse mundo carregado de futilidades, frivolidades, sugiro que não
morram sem antes lê-lo.
O livro negro
O Livro negro é um romance do escritor
turco Orhan Pamuk. A trama gira em torno da busca do jovem personagem Galip, um
advogado casado com sua prima, para encontrar a sua esposa: Rüya, que
desaparece de casa sem motivo deixando apenas um ambíguo bilhete de despedida.
Todo o romance se desenrola com a busca desesperada de Galip, transitando pelas
ruas e espaços da cidade de Istambul, para descobrir o paradeiro da esposa.
Ao longo do romance, a busca de Galip é
dividida com às crônicas diárias de um famoso jornalista, Celâl Salik,
meio-irmão de Rüya, publicadas diariamente pelo jornal Milliyet. O cronista que
vive se escondendo, para evitar ser localizado, escreve sobre temas os mais
vaiados, que vão desde aqueles que falam da política, Gângsteres, memórias
pessoais, poetas, religião e o hurufismo, uma seita antiga que acreditava ser
possível encontrar a essência de nossas vidas em letras escritas por Alá em
nossos rostos, passíveis de serem decifradas.
A trama deixa implícita que Rüya estaria com seu meio-irmão e que nas crônicas escritas por Celâl apareciam
pistas e indícios que permitiriam a Galip descobrir onde eles estavam
escondidos. Após descobrir o apartamento onde supostamente o cronista se
escondia, se instala ali e passa obsessivamente a ler suas crônicas e
anotações. As pistas que acredita encontrar nestes escritos o levam aos mais
distantes e instigantes recantos da velha Istambul, talvez o personagem
principal, não declarado do romance.
Pelas ruas da capital da Turquia, se
depara com um mundo aparentemente cheio de enigmas, armadilhas, surpresas e
locais que se parecem muito mais saídos das Mil e uma noites,
frutos da imaginação do autor, do que reais. Esses enigmas se encaixam na
narrativa, levando de uma história a outra, num crescendo e em um vai e vem
instigante.
Em algum momento do romance, o infeliz
advogado Galip, sem conseguir solucionar o enigma, chega à conclusão de que
para encontrar sua esposa, precisa compreender como Celâl pensa. Conforme o
romance flui, assim como as leituras das cônicas de Celâl por Galip, este cada
vez mais vai se tornando parecido com o cronista a ponto de acreditar ter se
transformado em outra pessoa.
Em resumo, para descobrir o paradeiro
da esposa e de seu meio-irmão compreende que teria de se transformar em outra
pessoa. É assim que, aproveitando-se do fato de que o primo também desapareceu,
ele passa a escrever suas crônicas usando os seus mesmos artifícios literários
e o estilo. Desta forma, Galip assume a própria identidade de Celâl e vive um
conflito entre ser ele mesmo ou tornar-se outra pessoa. Por outro lado, assumir
a identidade de seu primo deixa-o vulnerável aos muitos inimigos do jornalista,
capazes de cometer assassinato.
Continua...
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